Meu início profissional com a proteção à infância

Recém-formada, passei no segundo concurso público que prestei e fui chamada logo depois, em 2008. Caí de paraquedas no PETI – Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, pouco sabia sobre o ECA – Estatuto da Criança e Adolescente, assim como as políticas públicas do SUAS. Eu nem sabia no mapa onde ficava a cidade que estava indo morar – Pontal do Paraná! (Eu havia feito a prova do concurso em Paranaguá!), mas tinha a informação mais relevante do mundo: ficava na praia, segundo meu colega Rafael, parnanguara, que se formou comigo e me chamou para trabalharmos juntos (eu passei e ele não, mas ele alçou muitos outros vôos depois).

Calculo que iniciei atendendo ao torno de 80 crianças e adolescentes. Não dava para fazer um trabalho individual, definitivamente, como já estavam me pedindo. As crianças vinham na parte da manhã ou da tarde, no contraturno escolar, a maioria descalça. Até eu cheguei a ficar descalça com elas! Serviço público tem dessas coisas, junto com muita seriedade pra quem arregaça as mangas.

Basicamente eu formava pequenos grupos com elas e as ouvia, através de brincadeiras, jogos, desenhos, movimentos corporais. Assim como, cuidava de cada uma delas para poderem estar ali vivenciando uma infância saudável.

Não demorou para virem os relatos de abuso, nem os encaminhamentos para eu atendê-las.

Na época, a ponte para dar seguimento a um caso de abuso era o Programa Sentinela, que ficava em Paranaguá (com o devido acompanhamento do Conselho Tutelar e demais encaminhamentos).

E lá estava eu indo aos sábados, pelo Serviço Público, trabalhar, participando da minha primeira capacitação em abuso, entre outros encontros. (Achou que eu ficava só de pé descalço com eles nas brincadeiras?!).

Três meses depois pedi minha exoneração e fui trabalhar no Hospital Regional do Litoral (100% SUS), onde a mesma demanda continuou aparecendo.

E hoje eu sigo aqui, acolhendo mães que buscam se informar e educar na base do respeito e amor. Que sentem profundamente quando uma mãe perde um filho, como 4 delas na semana passada em Blumenau. Que sentem profundamente quando um menino é abusado diante de câmeras e ninguém o protege prontamente. Que se vêem tão vulneráveis quanto seus filhos e se perguntam diariamente, em quem posso confiar? Quando não estarei para proteger?

Os pedidos de ter alguém em quem confiar e de ser protegido estavam ali, no olhar das crianças e adolescentes que atendi no PETI (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil) e hoje passo a entendê-las um pouco mais. Elas e tantas outras depois me pediam desesperadamente: preciso confiar em ti, me proteja!

Em cada esquina você vai ver uma delas, além das suas.

Caroline Lampe Kowalski – Psicóloga Clínica – CRP 12/10806

Obs: dique 100 caso suspeite de abuso e demais violências contra crianças e adolescentes.

Caroline Lampe Kowalski Machado

Caroline Lampe Kowalski Machado

Psicóloga Clínica
CRP: 12/10806

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