É o mesmo que resguardo?
O resguardo, popularmente conhecido como quarentena, é o período em que o corpo da mulher está se recuperando do processo de parto (via vaginal ou cesárea).
O Manual Técnico Pré-natal e Puerpério: Atenção Qualificada e Humanizada, do Ministério da Saúde, define que o ciclo grávido-puerperal se encerra após o 42º dia de puerpério, quando é realizada a consulta de puerpério. Todo o processo de gravidez, parto, nascimento e puerpério são carregados de sentimentos profundos, momentos de crise construtivas, com forte potencial positivo para estimular a formação de vínculos e provocar transformações pessoais (Brasil, 2006, p. 15).
No puerpério, há tantas transformações em tão pouco tempo?
Enquanto que a mulher se restabelece fisicamente em um tempo mais previsível, seu estado emocional e mental passa por transformações que podem durar até mesmo anos.
Assim, a duração do puerpério é variável conforme o enfoque, Zimmermann et al (2001, p. 36) traz ainda o puerpério social, com duração de 120 dias devido à licença maternidade, e indica que o psicológico não tem término preciso.
De quais transformações psicológicas estamos falando?
Viver o puerpério é entrar em um período de transição, de um vir a ser mãe. A maternidade que se imaginava na gravidez torna-se uma prática diária e nos deparamos com as alegrias e as tristezas, as glórias de poder cuidar de um ser tão pequenininho e as incertezas de não saber direito o que fazer. Até para quem não é mãe de primeira viagem! Isso porque cada filho tem suas particularidades e a mãe estará em uma fase de vida diferente de quando teve o primeiro filho.
E o pai, vive o puerpério?
Há um vir a ser pai! Sim, podemos falar que o pai vive o puerpério, que experimenta também um misto de sensações e sentimentos diante de seu novo papel.
Nem todos sabem que estão passando por essa fase…
Enquanto que a mulher pode não se sentir à vontade para falar sobre seu puerpério, em grande parte por um ideal de mãe perfeita, o pai pode ser silenciado por uma cultura que não estimula os homens a falarem de seus sentimentos e inseguranças.
Assim, tanto a recém-mãe quanto o recém-pai podem não entenderem o que está passando em seus pensamentos, como se eles não pudessem ocupar esse lugar de não darem conta da maternidade e da paternidade conforme exigências suas e dos outros.
Há algo a fazer?
Talvez um dos primeiros passos está em aceitar os sentimentos presentes no puerpério, não precisa nomeá-los como bom ou mau. Tristeza, raiva, angústia, ansiedade e por aí vai, também são sentimentos possíveis.
Ao nos reconhecermos como mães e pais reais, podemos encarar as dúvidas e inseguranças de maneira mais leve. Deixando descansar um pouco a maternidade e a paternidade idealizada.
Referências:
BRASIL. Ministério da Saúde. Manual técnico pré-natal e puerpério: atenção qualificada e humanizada. Brasília, 2006.
ZIMMERMANN, Aida.; ZIMMERMANN, Heloisa; ZIMMERMANN, Jacques; TATSCH, Fernando; SANTOS, Cristina Gestação, Parto e Puerpério. In: EIZIRIK, Cláudio.; KAPCZINSKI, Flávio; BASSOLS, Ana Margareth. O ciclo da vida humana: uma perspectiva psicodinâmica. Porto Alegre: Artmed Editora, 2001.